Tanto eu te amava …
Que gritei meu amor
Ao vento
Em jeito de lamento
Por dele não ousar falar
A ninguém
Nem a ti
Respondeu-me o eco
Repetitivo como um sino
Badalando o meu amor
Sem tino
Por montes e vales
Sugerindo meu triste destino
Como origem de meus males
Tanto eu te amava …
Que desenhei o meu amor
Na areia húmida
Da praia deserta
Feito criança
Na esperança de que seria levado pelas aves
Vieram as ondas
Uma a uma
Apagar os riscos fugazes
Devagarinho
E cobri-los com a sua própria espuma
Tanto eu te amava …
Que gravei o meu amor bem fundo
No tronco de um plátano secular
Certo de que a árvore confidente
Iria guardar o segredo para sempre
E ainda hoje quando por lá passo
Recordo esse amor platónico
Afago a palavra “amo-te”
Gravada no tronco prateado
Dentro de um coração trespassado
Para enxugar as lágrimas de seiva
Que o plátano continua a chorar
E ouço o mesmo vento que me responde
Tangendo na ramagem silenciosa
Esta sinfonia chorosa
Sibilante de dor
Apesar do tempo
“Era no coração dela que deverias ter gravado o teu amor”
(Henrique Pedro
Vale de Salgueiro, 2 de Janeiro de 2008)